Ottoni

Família Ottoni

 

            A família Ottoni tem sua origem na Itália, na região de Matellica, e recebeu esse nome quando, em uma batalha no século X, os antepassados de Theóphilo Ottoni, Ludovico e Pietro delle Ponte, lutando ao lado de Othon I, saíram vitoriosos e foram acolhidos na família do Imperador como príncipes perpétuos do reino, com direito ao nome.

Na primeira metade do século XVIII, Emmanuel Antão Ottoni, nascido em Gênova, na Itália, migra para o Brasil, chegando a São Paulo. Daí segue com a família para o Rio de Janeiro, onde Jorge Benedicto Ottoni, filho de Emmanuel, estabelece-se. O filho primogênito de Jorge, Manoel Vieira Ottoni, vem para a província de Minas Gerais morar na Villa do Príncipe, que hoje é o Serro, onde veio a trabalhar na Casa Real de Fundição, órgão controlador das minas.

Manoel era o pai de José Eloy, tio de Theóphilo Ottoni, que o ajudou nos primeiros passos na sua vida no Rio de Janeiro, e do seu pai, Jorge Benedicto Ottoni, comerciante e político na Villa do Príncipe.

Theóphilo Benedicto Ottoni era o primogênito dos onze filhos do casal Jorge e Rosália de Souza Maia, nascido na Villa do Príncipe em 27 de novembro de 1807.

Até os quinze anos, não tinha instrução alguma; acompanhava seu pai com a tropa na aquisição de mercadorias por eles comercializadas. Somente no ano de 1823, Theóphilo Ottoni e os irmãos Honório, Christiano e Jorge passaram a frequentar aulas de Latim, começando assim os primeiros contatos com o mundo dos alfabetizados.

No ano de 1826, Theóphilo Ottoni escreve uma carta ao Imperador Pedro I, por meio do seu tio José Eloy, solicitando para si e para seus irmãos Honório, Christiano e Jorge estudos na Marinha Imperial, onde são graduados como guarda-marinha, ficando conhecido como Capitão da Casaca Branca.

Nessa época, Theóphilo Benedicto Ottoni começa a frequentar o Clube dos Amigos Unidos, sociedade secreta de ideologia liberal, que mais tarde passaria a ser O Grande Oriente de Minas, clube político de cunho maçônico. A partir daí, na companhia de Rodrigues Torres e Evaristo da Veiga, Ottoni faz sua iniciação liberal, conhecendo as ideias de Washington, de Jefferson e de Franklin.

Theóphilo Ottoni permaneceu na Marinha até o ano de 1830, quando pediu baixa e retornou para a Villa do Príncipe com o irmão Honório. Ali chegando, fundou o jornal Sentinela do Serro, antes iniciando seus ensaios de homem público, com ideias liberais em oposição ao Governo vigente, posição que o marcou pelo resto de sua vida, escrevendo para vários jornais na linha do revolucionário jornalista liberal Cipriano Barata. Prega a reforma da Constituição de 1824, a primeira do Brasil, questionando o Quarto Poder, o poder moderador, exclusivo do Imperador, que ultimava as decisões acima dos outros Poderes constituídos.

Discurso inflamado, pena afiada, foi eleito algumas vezes para o Senado, mas seu nome era sempre vetado pelo Imperador. Por defender essas ideias, teve seu jornal fechado por ordem do Padre Antonio Diogo Feijó. Nesse período, para garantir sua sobrevivência, adquire uma tropa em sociedade com o seu irmão Honório e entra para o comércio, seguindo os passos do seu pai, Jorge.

Em 1835, Theóphilo Ottoni entra definitivamente para a política ao ser eleito Deputado Provincial por Minas Gerais. Em 1838, elege-se para a assembleia Geral no Rio de Janeiro, sendo reeleito em 1840, sempre na oposição liberal.

No ano de 1842, por não concordar com as modificações constitucionais impostas à reforma de 1834, com a revogação do Ato Adicional, que havia criado as assembleias provinciais e revogado o poder moderador, adere à revolução liberal iniciada em São Paulo. O estopim para que a revolução ocorresse foi a anulação das eleições de 1840 pelos conservadores, partido –oficial- do Governo nas eleições de 1840, quando os liberais haviam saído vitoriosos. Com a dissolução da assembleia Geral, ocorre a sublevação.

O Movimento em Minas Gerais iniciou-se em Barbacena, chefiado pelo Cel. José Feliciano Pinto Coelho, o Barão de Cocais, e teve a adesão de Theóphilo Benedicto Ottoni e do Cônego José Antônio Marinho, entre outros.

O Movimento foi abafado em quarenta dias pela tropa imperial, sob o comando do Barão de Caxias, na cidade de Santa Luzia, com um saldo de sessenta mortos e de trezentos revoltosos presos, que foram encaminhados para Ouro Preto, entre eles Theóphilo Ottoni. Foi obrigado a marchar sete dias a pé, de Santa Luzia até a capital Ouro Preto. Saiu da prisão dezoito meses após, sendo anistiado em 14 de março de 1844, quando o governo imperial deu o caso como encerrado.

No ano de 1845, é eleito novamente Deputado para a Assembleia Geral, estabelecendo-se no Rio de Janeiro como comerciante no ramo de atacadista de tecidos, em sociedade com seu irmão Honório.

Na época, as minas de ouro e de diamantes do sertão de Minas Gerais já estavam exauridas e a economia local estava voltada para a agricultura, em especial para a plantação de algodão. O escoamento dessa produção, passando por Ouro Preto até o Rio de Janeiro, era dificultoso, exigindo o deslocamento de 150 a 200 léguas para deixar o algodão fora do comércio competitivo. É nesse momento que se destaca o empreendedor Theóphilo Benedicto Ottoni. O governo não tinha a visão desse homem do sertão! O tropeiro de outrora desejava realizar um antigo sonho: ligar o sertão de Minas (Minas Novas, Serro e Diamantina) com um porto de mar no sul da Bahia, em linha reta, numa mesma latitude, atravessando a Mata Atlântica, até então virgem e moradia dos temíveis índios botocudos.

O desafio era grande, pois, além dos índios antropófagos, exista a malária, os insetos e a incerteza da floresta pela frente. Mas Theóphilo Ottoni não era homem de desistir e, com o conhecimento que tinha do relatório do Engenheiro Pedro Victor Renault apresentado ao Governo de Minas em 1837, que dava o Rio Mucuri como navegável da foz do Rio Todos os Santos até o Oceano Atlântico em São José do Porto (Alegre Mucuri ¿ Bahia), viu ali o caminho que procurava para ligar o sertão ao mar.

Foi assim que, no ano de 1847, fundou, como o seu irmão Honório, a Companhia de Comércio e Navegação do Rio Mucuri - a Cia do Mucuri, com o objetivo de navegar o rio até onde fosse possível e daí abrir uma estrada de rodagem que fizesse a ligação do mar com Minas Novas e, consequentemente, com Serro e com Diamantina. No seu projeto, estava ainda contida a colonização do Vale do Mucuri com imigrantes estrangeiros: era um projeto de vanguarda até então nunca visto no Brasil. No mesmo ano de 1847, Ottoni faz sua primeira viagem ao Vale do Mucuri, saindo do Rio de Janeiro até São José do Porto Alegre. Subindo o Rio Mucuri, descobre que o relatório do Engenheiro Renault não era totalmente exato, pois o Rio Mucuri não era navegável como apresentado, mas somente até a Cachoeira de Santa Clara, situada a 25 léguas acima da sua foz no mar.

Fonte:http://www.myheritage.com.br/FP/newsItem.php?s=77031211&newsID=4