Família Bahmed

 

A Família Serrana Bahmed descende de Nagib Bahmed, filho da República do Líbano, nascido no ano de 1883 na cidade de “Kafarsanaum”, do alto – Líbano, educado na escola pública de Beirute, onde frequentou cursos primários locais, seguidos de outros mais avançados, entre eles o da “Universidade Americana de Beirute”.

            Em dezembro de 1899, aos dezessete anos, tomou um navio que fazia a América e, após trinta dias de mar, desembarcou no Rio. Dado o treinamento em jornalismo que fizera em seu país, tinha por objetivo pesquisar as comentadas minas brasileiras de ouro e diamantes, já notórias na Europa e na Ásia. Para tanto, acordara já com jornais do Líbano, da Síria e do Egito, o envio regular de reportagens que descreveriam os lugares, as minas, as riquezas e, mormente, a viabilidade de um bom sucesso do estrangeiro migrar para esse então paraíso do ouro.

            Do Rio, seguiu de trem para Minas, em busca do Serro, cidade para aonde, havia tempos, fora amigo íntimo de sua família. Desembarcou e, Sabará, já que Belo Horizonte, a nova Capital, ainda não possuía estação ferroviária. Pelas 40 léguas que separam Sabará de Serro, seguiu valentemente a cavalo, e lá chegou em 26 de janeiro de 1901.

            Foi, certamente, um poliglota. Alguém versado em árabe, português, em inglês e francês. Seu conhecimento do inglês se fez como fruto da Universidade Americana que frequentara, e do francês, por ser falado correntemente no Líbano, país que, então, se punha como “protetorado” da França. Tais línguas, certamente, muito o terão ajudado no falar e escrever o português. O conhecido serrano, Senhor Alcibíades Nunes, muito o valeu, já que conhecedor de línguas, sempre o ajudou em sua aculturação, mormente no falar e no escrever o idioma português.

            Durante seus primeiros anos de imigrante, como jornalista, cuidou de pesquisar e enviar notas, crônicas e descrições da nova terra para os jornais que representava. Dos assuntos que se sabe muito teria ele questionado em seus artigos foram o conselho aos árabes no sentido de não trocarem de nome ao entrar no Brasil, o que era comum, em face da diversidade ortográfica; e a desmistificação no Oriente de que no Brasil se colheriam com as mãos o ouro e os diamantes espalhados sobre o solo...

            Após a fase de jornalismo, entrou a comerciar por doze anos, após os quais passou à indústria, modificando a iluminação do Serro do processo de gás para o elétrico, através de usina e técnica que, pessoalmente, buscou na longínqua Europa.

            Sempre possuiu uma razoável biblioteca onde guardava livros, revistas e jornais árabes e franceses, além de boas publicações em português, mormente as vindas no Rio de Janeiro.

            Curioso notar que alfabetizado em língua árabe, além de versado no árabe literário clássico – foi oficialmente nomeado pelo Estado, por vários anos, Inspetor Escolar da então única casa oficial de ensino do Serro, o grupo estadual primário, fundado em 1907, onde, por óbvio, se lecionava o português. Isso prova o empenho e interesse que teria ele posto em se aculturar rapidamente no plano cultural e social da terra que escolhera para viver.

            Era ardoroso aficionado da arte caligráfica, e de tal modo se esmerava no escrever, que sua escrita à mão, em português, se fazia elegante e artística, embora nela iniciara já adulto. Em favor disso, estabeleceu um concurso de “Caligrafia”, vigente em todas as séries do Grupo Escolar do Serro, que premiava com certo valor monetário o aluno que, anualmente, apresentasse a mais expressiva e bela caligrafia. Tal concurso existiu até o último dia de vida do patrocinador. Lembre-se que, à época, ainda com raras máquinas de escrever, a boa caligrafia era algo que em muito credenciava os que buscava emprego.

            Exerceu em Serro, até 1918, casa comercial de artigos finos, já que a abastecia permanentemente no Rio de Janeiro, que frequentava anualmente. Era, então, a cidade que importava da Europa, para revenda no Brasil, artigos aprimorados de mais fina origem.

            Em 1915 fundou a Sociedade Anônima denominada Cia. de Força e Luz do Serro, com a qual pretendia mudar a iluminação urbana do Serro, ainda a gás, pela elétrica. Como, à época, portador ele de perto de 100% das ações da empresa, buscou, pessoalmente, na Bélgica, todo o material necessário à empresa e o engenheiro responsável pelo projeto da usina hidrelétrica e sua total instalação. Como engenheiro tinha um nome um tanto intrincado, o Serro o batizou de “Seu Belga”, como passou a chamar-se.

            Findo, após 35 anos, o contrato entre a Força e Luz e a Prefeitura Municipal, esta propôs a Nagib Bahmed, possuidor de perto de 100% das ações, a compra da Companhia, o que foi por ele rejeitado, para, em contraproposta, doar à Prefeitura todo o acervo da Companhia Força e Luz, de forma integral, sem o peso de qualquer dívida ou de outros quaisquer ônus.

            Tinha por hábito viajar anualmente ao Rio de Janeiro. Ganhava Curvelo a cavalo e seguia, dali, pelo trem da Central do Brasil. No Rio, por frequentar quase todas as palestras do famoso escritor de lendas árabes, aproximou-se de Malba Tahan (heterônimo do escritor Júlio Cesar de Melo e Sousa) com quem debateu, frequentes vezes, coisas da língua do alto interesse do famoso escritor.

Feiz N. Bahmed

Belo Horizonte, 18 de setembro de 2014.